A nova partícula que pode mudar o que sabemos sobre o Universo
21 mar 2016
16h36
O Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) - um acelerador
de partículas gigantesco que fica na fronteira entre a França e a Suíça -
causou fortes emoções entre físicos teóricos, uma comunidade que
geralmente é muito cautelosa quando se trata de novas descobertas.
O motivo: "batidinhas" detectadas pelo Grande Colisor de Hádrons. Essas
batidas, evidenciadas nos dados que resultam da aceleração dos prótons,
podem sinalizar a existência de uma nova e desconhecida partícula seis
vezes maior do que o Bóson de Higgs (a chamada "partícula de Deus").
E isso, para o físico teórico Gian Giudice, significaria "uma porta para um mundo desconhecido e inexplorado".
"Não é a confirmação de uma teoria já estabelecida", disse à revista
New Scientist
o pesquisador, que também é trabalha na Organização Europeia para Investigação Nuclear (CERN).
A emoção dos cientistas começou quando, em dezembro de 2015, os dois
laboratórios que trabalham no LHC de forma independente registraram os
mesmos dados depois de colocar o colisor para funcionar praticamente na
capacidade máxima (o dobro de energia necessária para detectar o Bóson
de Higgs).
Os dados registrados não podem ser explicados com o que se sabe até hoje das leis da física.
Depois do anúncio desses novos dados foram publicados cerca de 280
ensaios que tentam explicar o que pode ser esse sinal - e nenhum deles
descartou a teoria de que se trata de uma nova partícula.
Alguns cientistas sugerem que a partícula pode ser uma prima pesada do
Bóson de Higgs, descoberto em 2012 e que explica por que a matéria tem
massa.
Outros apresentaram a hipótese de o Bóson de Higgs ser feito de
partículas menores. E ainda há o grupo dos que pensam que essas
"batidinhas" podem ser de um gráviton, a partícula encarregada de
transmitir a força da gravidade.
Se realmente for um gráviton, essa descoberta será um marco, porque até
hoje não tinha sido possível conciliar a gravidade com o modelo padrão
da física de partículas.
Extraordinário?
Para os especialistas, o fato de que ninguém conseguiu refutar o que os
físicos detectaram é um sinal de que podemos estar perto de descobrir
algo extraordinário.
"Se isso se provar verdadeiro, será uma (nota) dez na escala Richter dos físicos de partículas", disse ao jornal britânico
The Guardian
o especialista John Ellis, do King's College de Londres. Ele também já
foi chefe do departamento de teoria da Organização Europeia para a
Investigação Nuclear. "Seria a ponta de um iceberg de novas formas de
matéria."
Mesmo com toda a animação de Ellis, os cientistas não querem se precipitar.
Quando o anúncio foi feito pela primeira vez, alguns pensaram que tudo
não passava de uma terrível coincidência que aconteceu devido à forma
como o LHC funciona.
Duas máquinas de raios de prótons são aceleradas chegando quase à
velocidade da luz. Elas vão em direções diferentes e se chocam em quatro
pontos, criando padrões de dados diferentes.
Essas diferenças, batidas ou perturbações na estatística são o que permitem demonstrar a presença de partículas.
Mas estamos falando de bilhões de perturbações registradas a cada experimento, o que torna provável um erro estatístico.
Porém, o fato de que os dois laboratórios tenham detectado a mesma
batida é o que faz com que os cientistas prestem mais atenção ao tema.
Boas notícias
Além disso, recentemente os cientistas dos laboratórios CMC e Atlas
apresentaram novas provas depois de refinar e recalibrar seus
resultados.
E nenhuma das equipes pôde atribuir a anomalia detectada a um eventual erro estatístico.
São boas notícias para os especialistas que acreditam que essa descoberta seja o início de algo muito grande.
O lado ruim é que nenhum dos laboratórios conseguiu explicar o que é
esta misteriosa partícula. São necessárias mais experiências para
qualificar o evento como um "descobrimento".
O lado bom é que não será preciso esperar muito para ver o fim da história.
Nesta semana, o Grande Colisor de Hádrons sairá de seu período de
hibernação para voltar a disparar prótons em direções diferentes.
Nos próximos meses o colisor oferecerá o dobro de informação em comparação ao que os cientistas têm até agora.
E se estima que, em agosto, eles poderão saber o que é essa nova e promissora partícula.