segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Cochilo neural


21/01/2008

Agência FAPESP – Depois de muitas horas sem dormir, o cérebro parece se tornar incapaz de aprender e absorver – mas depois de várias horas de sono ele volta ao normal. A maioria das pessoas já passou tal experiência. Mas só agora cientistas conseguiram esclarecer o fenômeno.

Pesquisadoras da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, afirmam que o sono tem um papel fundamental na capacidade do cérebro para reagir ao ambiente. Essa capacidade, conhecida como plasticidade, é central para o aprendizado.

No estudo, publicado no último domingo (20/1) na edição on-line da revista Nature Neuroscience, os cientistas utilizaram diversas técnicas para mostrar que as sinapses – conexões entre células nervosas cruciais para a plasticidade cerebral – eram mais fortes em roedores quando eles estavam acordados e mais fracas durante o sono.

A descoberta reforça a hipótese, defendida pelos autores da pesquisa, de que as pessoas dormem para que as sinapses possam diminuir e prepará-las para uma nova rodada de aprendizado e fortalecimento sináptico.

O cérebro humano gasta até 80% de sua energia com as sinapses, constantemente acrescentando e fortalecendo conexões em resposta a todos os tipos de estímulos, de acordo com a autora principal do estudo, Chiara Cirelli, professora associada de psiquiatria.

Como cada um dos milhões de neurônios no cérebro humano realiza milhares de sinapses, esse dispêndio de energia “é imenso e não pode ser mantido.”

“Nós precisamos de um período de desligamento em que não fiquemos expostos ao ambiente para, assim, diminuirmos as sinapses”, disse Chiara.

“Acreditamos que é por isso que todos os organismos vivos dormem. Sem sono, o cérebro chega a um ponto de saturação que cobra seu preço da capacidade de aprendizado”, disse.

Para testar a teoria, os pesquisadores realizaram estudos moleculares e eletrofisiológicos em ratos para avaliar a potenciação (fortalecimento) e a depressão (enfraquecimento) das sinapses, acompanhando os estados de sono e vigília.

Numa bateria de experimentos, eles avaliaram fatias do cérebro para medir o número de receptores específicos que se moveram para as sinapses.

“Pesquisas recentes mostraram que, enquanto a atividade sináptica aumenta, mais desses receptores glutamatérgicos entram nas sinapses e as deixam maiores e mais fortes”, explicou Chiara.

O grupo de Wisconsin ficou surpreso ao descobrir que ratos tinham um aumento de quase 50% dos receptores depois de um período em vigília, em comparação com ratos que haviam dormido.


Homeostase sináptica

Num segundo experimento molecular, os cientistas examinaram como vários dos receptores sofreram fosforilação – outro indicador de potenciação sináptica.

Eles encontraram níveis de fosforilação muito mais altos durante a vígilia que durante o sono.

Os resultados foram os mesmos quando foram medidas outras enzimas que normalmente estão ativas durante a potenciação sináptica.

Para fortalecer as conclusões, a equipe também realizou estudos em ratos vivos para avaliar sinais elétricos que refletem mudanças sinápticas em diferentes momentos.

Esse teste, semelhante à eletroencefalografia, envolveu o estímulo de um lado do cérebro de cada rato com um eletrodo durante o sono e a vigília para medir a “resposta evocada” no lado oposto.

Os estudos novamente mostraram que, com os mesmos níveis de estímulo, as respostas foram mais fortes após um longo período de vigília e mais fracas após o sono, sugerindo que as sinapses devem ter se fortalecido.

“Em conjunto, essas mensurações corroboram satisfatoriamente a idéia de que os circuitos do nosso cérebro ficam progressivamente mais fortes quando estamos acordados e que o sono ajuda a recalibrá-los”, disse a pesquisadora.

A teoria desenvolvida e defendida pelo grupo, conhecida como hipótese da homeostase sináptica, contradiz a visão de muitos cientistas sobre como o sono afeta o aprendizado.

A noção mais popular autalmente, segundo Chiara, é que durante o sono as sinapses trabalham da mesma maneira, repassando toda a informação adquirida durante as horas anteriores ao sono, consolidando essa informação e ficando ainda mais fortes.

“É diferente do que achamos.

Acreditamos que o aprendizado ocorre apenas quando se está acordado e a principal função do sono é manter nosso cérebro e todas as suas sinapses mais eficientes”, disse a professora.

http://www.agencia.fapesp.br./boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=8318



domingo, 20 de janeiro de 2008

Sedna: Descoberto um distante e minúsculo planetóide, integrante do Sistema Solar

Misterioso Sedna

JOSÉ ROBERTO V. COSTA
Astronomia no Zênite
O Universo é tudo para nós

+ Sedna para jovens e crianças

Uma equipe de astrônomos chefiada por Michael E. Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, descobriu um planetóide em 14 de novembro de 2003 utilizando o Telescópio Samuel Oschin (Caltech) de 1,2 m do Observatório Palomar.

O objeto recebeu a denominação temporária 2003 VB12, e em seguida foi observado por telescópios no Chile, Espanha, Arizona e Havaí.

Essa designação obedece a critérios da União Astronômica Internacional (baseado na data da descoberta) e foi também esse órgão quem determinou a nomenclatura permanente: 2003 VB12 entrará nos livros de Astronomia como Sedna, uma deusa esquimó que deu vida às criaturas marinhas no Ártico, pois ele é também o objeto na mais distante e fria região do Sistema Solar.


Representação da deusa Sedna.
Cortesia: Nasa/Caltech/M. Brown

Plutão e Caronte, fotografados pelo
Telescópio Espacial Hubble.

O mais distante
SEDNA NÃO É O DÉCIMO PLANETA do Sistema Solar.

Mas pode ser classificado como planeta anão no futuro, quando observações mais apuradas fornecerem dados importantes sobre sua constituição física.

Se você estivesse em SEDNA poderia TAMPAR O SOL com a cabeça de um ALFINETE

Sedna está agora a cerca de 13 bilhões de quilômetros do Sol, mais de 90 vezes a distância que separa a Terra do astro-rei (ou 90 UA).

Isso faz deste planetóide o objeto mais distante já encontrado em nosso sistema planetário.

Características orbitais

A ÓRBITA DE SEDNA É EXTREMAMENTE elíptica.

Muito mais alongada que a de qualquer planeta, até mesmo Plutão.

Sedna leva 10.500 anos para dar uma volta completa em torno do Sol, ficando a maior parte do tempo muito longe dele, quase 900 vezes a distância Terra-Sol (afélio entre 850 e 900 UA).

Porém, Sedna está lentamente se aproximando um pouco mais do Sol (e portanto da Terra). Embora seu periélio só deverá ocorrer daqui a 72 anos, a 76 UA do Sol.

A última vez que Sedna esteve no periélio nosso planeta estava no fim da Idade do Gelo. Aliás, por falar em gelo, na região onde Sedna se encontra, a temperatura nunca é superior a –240°C.

Esse mundo gelado está tão distante que segundo Mike Brown, astrônomo do Caltech, "se você estivesse em Sedna poderia tampar o Sol com a cabeça de um alfinete". Para se ter uma idéia, o Cinturão de Kuiper termina abruptamente a 50 UA do Sol, mas Sedna não se aproxima do Sol mais do que 76 UA (veja a gravura acima).

Mesmo os objetos do Cinturão de Kuiper com órbitas bastante excêntricas, e que atingem grandes distâncias do Sol (comparáveis à distância atual de Sedna) têm periélios muito mais próximos, a cerca de 35 UA.

Características físicas
Sedna tem magnitude visual 20,5 sendo, portanto, consideravelmente menos brilhante que 2004 DW (descoberto em fevereiro de 2004 e com 1600 km de diâmetro) e Quaoar (descoberto em 2002; 1250 km). Eles já estavam fora do alcance da grande maioria dos astrônomos amadores mas, curiosamente, a primeira confirmação da descoberta de Sedna veio justamente de um observatório amador, o Tenagra).


Diâmetros comparativos. Clique na figura para ampliar.

Em todas as imagens até agora obtidas Sedna é apenas um ponto de luz. Não é possível, mesmo para os instrumentos sofisticados dos astrônomos profissionais, medir diretamente o diâmetro de Sedna.

A estimativa é feita com base na distância e temperatura (conhecidas), através de um telescópio térmico. Sedna não deve ter um diâmetro inferior a 1290 km nem superior a 1770 km. É maior que Quaoar e tem cerca de 3/4 do tamanho de Plutão. Medidas mais acuradas serão realizadas em breve.

Ainda não se conhece a constituição de Sedna. Devido sua aparência relativamente brilhante (nas observações térmicas) espera-se que exista gelo de água ou metano em sua superfície, assim como em Plutão e Caronte.

Porém, observações realizadas com o Telescópio Gemini e o Observatório Keck não sugerem o mesmo. De observações feitas pelo telescópio SMARTS, no Chile, sabe-se que Sedna é um dos objetos mais avermelhados do Sistema Solar, quase tão vermelho quanto Marte. As informações ainda não são conclusivas e ainda há evidências de uma pequena lua orbitando Sedna.

Por que não foi encontrado antes?
NÃO É TÃO SIMPLES. Uma busca contínua no Sistema Solar exterior tem sido feita desde outubro de 2001 através do Observatório de Monte Palomar, na Califórnia. E desde então foram descobertos 40 objetos no Cinturão de Kuiper.

Para encontrá-los, são tiradas três fotografias de uma pequena porção do céu noturno por três horas e então se procura algo nessas imagens que esteja se movendo. As bilhões de estrelas e galáxias visíveis no firmamento não se movem em tão pouco tempo, ao contrário de satélites, planetas, asteróides e cometas, que apresentam muitas vezes movimentos distintos.

Sedna, a rigor, está fora do Cinturão de Kuiper, numa região intermediária entre esse cinturão de objetos além da órbita de Netuno e o limite inferior da nuvem de Oort, o depositório de cometas do Sistema Solar.


Os três fotogramas que revelaram Sedna no Observatório de Monte Palomar.
Cortesia: Nasa/Caltech/M. Brown


Mais
+ Cinturão de Kuiper
+ Objetos transnetunianos

Fonte:
• Instituto Tecnológico da Califórnia, Caltech - Geological & Planetary Sciences
Publicação em periódico impresso:
• Costa, J. R. V. O que é um planetóide?. Tribuna de Santos, Santos, 5 abr. 2004. Caderno de Ciência e meio ambiente, p. D-4.


Sobre esta página:
• Você está em www.zenite.nu?sedna
• Última atualização em 05/01/2008 às 17h34min.

Astronomia no Zênite ©1999-2008. Todos os Direitos Reservados (sobre a reprodução deste artigo).

http://www.zenite.nu/

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Cura dirigida


Pesquisadores utilizam campo magnético para levar nanopartículas metálicas introduzidas em células endoteliais em direção a endopróteses metálicas em vasos sangüíneos (Foto: Divulgação)


08/01/2008

Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos utilizou campos magnéticos e nanoesferas contendo ferro para dirigir células saudáveis a locais específicos em vasos sangüíneos. O estudo, realizado em animais, pode levar a novos métodos para direcionar células e genes a fim de reparar órgãos humanos que tenham lesões ou doenças.

A equipe, liderada por Robert Levy, do Hospital da Criança na Filadélfia, injetou nanopartículas contendo óxido de ferro em células endoteliais – células achatadas que delineiam o interior dos vasos sangüíneos.

Os resultados do trabalho foram publicados nesta segunda-feira (7/1) na edição on-line e estarão em breve na versão impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). O grupo de Levy teve a colaboração de engenheiros das universidades Drexel e Duke.

Depois de introduzir endopróteses (pequenos tubos também conhecidos como stents) de aço inoxidável nas artérias carótidas de ratos, os cientistas utilizaram campos magnéticos para dirigir as células para o interior das estruturas. O campo magnético uniforme criou regiões locais de alta força magnética tanto nas nanopartículas como nas endopróteses, aumentando a atração entre as partículas e seus alvos.

“É uma nova estratégia para levar células a alvos no corpo”, disse Levy. O cientista acrescentou que estudos anteriores procuraram, com menos sucesso, outras abordagens para introduzir células endoteliais em vasos sangüíneos avariados.

Os pesquisadores criaram nanopartículas, de cerca de 290 nanômetros de diâmetro, com polímeros biodegradáveis, ácido poliláctico e óxido de ferro. Um nanômetro tem cerca de um bilionésimo de metro. Os glóbulos vermelhos do sangue, por exemplo, são cerca de cem vezes maiores que essas nanopartículas.

Os pesquisadores carregaram as células endoteliais com essas nanopartículas depois de modificá-las geneticamente para produzir uma cor específica que pudesse ser detectada em um sistema de imageamento com os animais vivos.

É comum que pacientes com doenças do coração recebam stents em vasos sangüíneos parcialmente bloqueados. O objetivo é melhorar o fluxo de sangue ao alargar os vasos e, simultaneamente, transportar medicamentos para seu interior.

No entanto, muitas dessas próteses acabam falhando porque as lisas células musculares se acumulam excessivamente em sua superfície e criam novos bloqueios. Um dos objetivos da terapia celular é introduzir novas células endoteliais para recobrir as endopróteses com uma superfície lisa.

Segundo Levy, enquanto as endopróteses que levam medicamentos trazem freqüentes benefícios para o tratamento de artérias coronárias, elas são menos eficientes no tratamento de doenças vasculares periféricas, como as que ocorrem em pacientes com diabetes.

Nesses casos, graves problemas da circulação do sangue podem forçar os médicos a amputar membros. A equipe de Levy pretende utilizar a nova abordagem para levar nanopartículas magnéticas a artérias periféricas.

O artigo High field gradient targeting of magnetic nanoparticle-loaded endothelial cells to the surfaces of steel stents, de Robert Levy e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

http://www.agencia.fapesp.br./boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=8260

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A Vida no Cosmo:


Descoberta de moléculas orgânicas em estrela distante, que está nos estágios finais da formação de planetas, sugere que blocos básicos da vida podem ser comuns nos sistemas planetários (divulgação)
Origem comum
07/01/2008

Agência FAPESP – Um grupo de astrônomos dos Estados Unidos acaba de descobrir sinais de moléculas orgânicas altamente complexas no disco de poeira em volta de uma estrela distante.

Como a estrela HR 4796A, de apenas oito milhões de anos, está nos estágios finais da formação de planetas, a descoberta sugere que os blocos básicos da vida podem ser comuns nos sistemas planetários.

Em trabalho publicado no Astrophysical Journal Letters, John Debes e Alycia Weinberger, do Instituto Carnegie, e Glenn Schneider, da Universidade do Arizona, descrevem observações feitas por infravermelho da HR 4796A a partir de um espectrômetro do telescópio espacial Hubble.

Os cientistas verificaram que o espectro de luz visível e infravermelha promovido pela poeira da estrela era muito avermelhado, coloração produzida por grandes moléculas orgânicas chamadas de tolinas. De acordo com o estudo, o espectro não se assemelha com o de outras substâncias vermelhas, como óxido de ferro.

As tolinas não se formam naturalmente hoje em dia na Terra, porque o oxigênio da atmosfera as destruiria rapidamente, mas estima-se que elas teriam existido há bilhões de anos, nos primórdios do planeta, e que teriam sido precursoras das biomoléculas que formam os organismos terrestres.

Tolinas já foram detectadas no Sistema Solar, em cometas e em Titã, sendo responsáveis pelo tom vermelho da lua de Saturno. O novo estudo é o primeiro a identificar essas grandes moléculas orgânicas fora do Sistema Solar.

A HR 4796A encontra-se a 220 anos-luz da Terra na constelação do Centauro e é visível principalmente a partir do hemisfério Sul terrestre. O disco de poeira em volta da estrela foi formado a partir das colisões de pequenos corpos celestes, semelhantes a cometas ou asteróides do Sistema Solar.

Segundo o estudo agora publicado, esses corpos podem transportar as moléculas orgânicas para qualquer planeta que esteja no sistema da HR 4796A.

“Astrônomos estão começando a olhar para planetas em torno de estrelas diferentes do Sol. A HR 4796A tem massa duas vezes maior e é 20 vezes mais luminosa”, disse Debes. “Estudar esse sistema fornece pistas para que possamos entender as diferentes condições por meio das quais os planetas se formaram e, talvez, sob as quais a vida pode evoluir.”

O artigo Complex organic materials in the circumstellar disk of HR 4796A, de John Debes e outros, pode ser lido por assinantes da Astrophysical Journal Letters em www.journals.uchicago.edu/loi/apjl.



http://www.agencia.fapesp.br./boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=8253