sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Molécula que edita DNA é eleita maior avanço científico do ano pela 'Science'


Escolha foi da revista 'Science', da Associação Americana para Ciência. Visita de sonda a Plutão ficou em primeiro lugar na escolha do público.

Por Do G1, em São Paulo

Ilustração mostra atividade da CRISPR alterando a sequencia genética de molécula de DNA (Foto: S. Dixon/F. Zhang/Divulgação)
Ilustração mostra atividade da CRISPR alterando a sequencia genética de molécula de DNA (Foto: S. Dixon/F. Zhang/Divulgação)
A CRISPR, uma molécula que pode ser controlada para alterar o DNA de organismos ao sabor do que desejam os cientistas, foi eleita o avanço científico mais importante de 2015 pela revista "Science", da AAAS (Associação Americana para Avanço da Ciência).
A escolha anual, feita por editores da publicação, concorreu com outros trabalhos importantes – como a vacina contra o ebola e a descoberta de um fóssil de primata de um gênero humano desconhecido – mas ganhou com folga.
Neste ano, como sempre faz, a "Science" elegeu as dez realizações mais importantes. Desta vez, porém, submeteu a lista a seus leitores e a cientistas para estabelecer uma ordem. Apenas uma foi considerada mais importante que o advento da CRISPR: o estudo de Plutão pela sonda espacial New Horizons.
Veja abaixo a lista completa dos dez avanços mais importantes na ciência em 2015, na ordem escolhida pelos leitores:
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1º - Sonda em Plutão – A visita da sonda New Horizons ao planeta-anão foi sem dúvida o evento científico que mais comoveu o público leigo em 2015. Mas os astrônomos ficaram igualmente surpresos com o pequeno astro exibindo uma diversidade de cenários tão grande, incluindo montanhas de gelo, um mar de nitrogênio, rachaduras provocadas por atividade tectônica e uma tênue atmosfera azulada.
2º - Edição de DNA – (avanço mais importante do ano na escolha dos editores) – A enzima CRISPR, descoberta por produtores de iogurte em uma bactéria em 2007 acabou se revelando como uma versátil ferramenta para ‘editar’ DNA. Após cientistas conseguirem aprimorá-la para uso prático em 2012, em 2015 sua popularidade explodiu e seus usos são incontáveis. Já foi usada para alterar o genoma de embriões humanos, criar cães extramusculosos, porcos que não contraem viroses, amendoins antialérgicos e trigo resistente a pragas.
3º - Vasos linfáticos no cérebro – Por muito tempo, cientistas acreditaram que o sistema linfático -- usado pelo corpo para transportar moléculas do sistema imune e para excreção de substâncias indesejadas – não existia no cérebro. Em 2015, porém, cientistas descobriram estruturas que cumprem esse papel. O achado de vasos linfáticos no sistema nervoso deve mudar a compreensão de doenças complexas, como o mal de Alzheimer e outros males neurodegenerativos.
4º - Vacina contra ebola – Correndo contra o tempo para conseguir desenvolver uma vacina contra o vírus ebola no meio da epidemia que deixou mais de 11 mil mortos na África Ocidental entre 2014 e 2015, a Agência de Saúde Pública do Canadá fez uma parceria com a gigante farmacêutica Merck para conduzir um teste clínico do imunizante. O produto emergiu quando a epidemia já estava sob controle, mas se mostrou capaz de oferecer proteção de 75% a 100% das vítimas.
5º - Física fantasmagórica – Um experimento obteve um recorde em 2015, fazendo uma partícula alterar a propriedade de outra, instantaneamente, a uma distância de 1,3 quilômetro. Conhecido na física quântica como emaranhamento, esse efeito já havia sido demonstrado em outros testes, mas nunca em extensão tão grande. Pelo fenômeno ser instantâneo, Einstein havia questionado o resultado de testes similares, chamando-os de “ação fantasmagórica à distância”, pois nada pode viajar mais rápido que a luz. Físicos já provaram que o emaranhamento não viola a teoria da relatividade, porém.
6º - Psicologia replicável – Uma crise se abateu sobre a psicologia experimental em 2011, quando ficou claro que muitos dos trabalhos na área eram fracos. Ao se tentar replicar os experimentos, os testes tinham resultados diferentes. Em 2013, um consórcio de 270 psicólogos começou a tentar replicar experimentos importantes, “limpando” o campo de pesquisa dos resultados equivocados. Mais de 61% dos 100 trabalhos escolhidos falharam no teste de replicação até 2015. Psicólogos, porém, adotaram padrões mais rígidos de publicação, restaurando a credibilidade da área.
7º - A família humana cresce -- Fósseis de uma espécie desconhecida de primata do gênero humano foram encontrados em uma caverna na África do Sul. Batizado de Homo naledi, o hominídeo pode ter vivido 2 milhões de anos atrás, quando o gênero Homo ainda estava em formação. Provavelmente andava ereto, mas ainda se pendurava em árvores, o que o põe próximo da linhagem de ancestrais humanos. Apenas um estudo, porém, foi publicado sobre o animal até agora. Os 15 espécimes encontrados prometem abalar o campo da paleoantropologia nos próximos estudos.
8º - Fungo opiáceo – Biólogos americanos conseguiram alterar geneticamente uma espécie de levedura – um fungo – para produzir opiáceos: moléculas usadas em princípios ativos de tranquilizantes e analgésicos. A técnica elimina a necessidade de extrair substâncias químicas de papoulas, que as produzem em quantidade muito pequena. Por um lado, será mais fácil a partir de agora fazer medicamentos opiáceos de qualidade. Por outro, cientistas também estão alertando para a possibilidade de heroína e morfina começarem a ser fabricadas em maior escala em laboratórios clandestinos improvisados.
9º - Plumas profundas – Quando uma placa tectônica se sobrepõe sobre “plumas” de lava que penetram no interior do planeta, ocorrem erupções vulcânicas que formam ilhas e montanhas. Mas ninguém nunca descobriu se essas formações de magma eram estruturas que penetravam nas profundezas da Terra ou apenas estruturas rasas. Estudando terremotos, cientistas descobriram agora 28 plumas no planeta que possuem até 800 km de profundidade, o que obrigará muitos geólogos a repensarem suas teorias.
10º - O genoma do paleoíndio – Cientistas sequenciaram em 2015 o genoma de um fóssil conhecido como Homem de Kennewick, um indivíduo que morreu há 8.500 anos e foi mumificado pelo gelo no noroeste dos EUA. A análise revelou que o fóssil, descoberto em 1996, era relacionado a uma das tribos de índio que habitam a região e os conecta diretamente aos povos asiáticos polares que atravessaram o estreito de Beringo – pulando da Sibéria para o Alasca – há mais de 15 mil anos.
Postado por Carlos PAIM