quarta-feira, 17 de março de 2010

Brasil faz primeira cirurgia cardíaca com robô


O Hospital Israelita Albert Einstein realizou, anteontem, a primeira cirurgia cardíaca minimamente invasiva totalmente robotizada. Trata-se do primeiro procedimento do gênero realizado na América Latina.

Caio Guatelli/Folha Imagem
Cirurgia com o sistema Da Vinci foi comandada pelo cirurgião cardíaco Robinson Poffo e acompanhada por cirurgiões dos EUA



A cirurgia, comandada pelo cirurgião cardíaco Robinson Poffo, foi realizada com o sistema robótico Da Vinci (já usado em operações como a de próstata) e foi acompanhada por cirurgiões dos EUA -onde a equipe do hospital foi treinada.

A paciente operada tem 35 anos e sofria de uma cardiopatia chamada comunicação interatrial -caracterizada por uma abertura entre os átrios, que permite a passagem do sangue entre eles. A doença causa cansaço, falta de ar e arritmias.

O procedimento durou seis horas. A paciente deve receber alta até sexta-feira.

Segundo Poffo, uma das principais vantagens da cirurgia robótica é que ela é menos invasiva -em vez de abrir o peito do paciente com um corte de cerca de 25 cm, são feitas três pequenas incisões milimétricas e um corte de cerca de 2 cm na região lateral do tórax do paciente. É por esses orifícios que entram os instrumentais (pinça, tesoura, afastadores, aspiradores) que vão realizar a cirurgia.

"É uma cirurgia muito mais precisa. O cirurgião fica no console para manipular os "braços" do robô e tem uma visão em 3D. O equipamento filtra possíveis tremores das mãos do médico e o movimento das pinças é articulado, como o movimento das mãos. Na cirurgia minimamente invasiva tradicional, a pinça é rígida e não permite muitos movimentos", explicou José Carlos Teixeira Junior, gerente médico executivo do Programa de Cirurgia do hospital.

Além disso, afirma Poffo, a cirurgia robótica é um procedimento em que o paciente sangra menos, tem menos risco de sofrer infecções, recebe alta da UTI em menos tempo e é capaz de retomar atividades cotidianas mais rapidamente. "A tendência é dominar técnicas que sejam cada vez menos invasivas para o paciente, ajudando a diminuir o risco cirúrgico", diz.

Indicações

De acordo com Poffo, não é qualquer paciente que se encaixa no perfil da cirurgia cardíaca por robô. "Não pode ter nenhuma anormalidade na caixa torácica e também tem que ter uma boa circulação periférica", diz.

As principais indicações atualmente são o tratamento de problemas de válvulas cardíacas, algumas cardiopatias congênitas e correção da fibrilação atrial. "A revascularização do miocárdio [ponte de safena] por robô é mais complexa e é indicada apenas para poucos casos selecionados."

O cirurgião Luís Alberto Oliveira Dallan, diretor do Departamento de Cirurgia de Coronária do InCor, diz que o uso do robô para tratar esse tipo de problema é pioneiro no Brasil, mas já é realidade nos EUA.

"Nós pretendemos alcançar essa tecnologia num futuro muito próximo. Quando benfeita, a cirurgia robótica é menos invasiva e o paciente tem alta hospitalar mais rápido. Por enquanto, não é uma alternativa para o dia a dia, mas é uma promessa e abre novas perspectivas", afirmou Dallan.

Ele ressaltou, entretanto, que o uso do robô para cirurgias de revascularização do miocárdio ainda está distante. "É bem mais complexo usar robô nesses casos. Na cirurgia convencional, muito bem estabelecida, o índice de complicação é baixíssimo", afirma Dallan.

O cirurgião cardíaco Marcelo Jatene, do HCor, diz que ainda é muito precoce afirmar que a técnica traz benefícios reais e superiores aos da cirurgia convencional. "É inovadora e muito bem-vinda. Mas a sequência de casos ainda é pequena. O grande inconveniente é o preço", afirma. O robô custa cerca de R$ 5 milhões.

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