sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Chegou a TV digital


Transmissões terão início no domingo (2/12) para telespectadores da Grande São Paulo. Previsão é que o sinal digital esteja disponível em todas as capitais até o fim de 2009 e, em 2013, em todos os municípios brasileiros


30/11/2007

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – As partidas de futebol e os próximos capítulos da novela poderão ser vistos por outro ângulo, ou melhor, em outro formato a partir de domingo (2/12) por telespectadores na Grande São Paulo. É que a partir dessa data terão início oficialmente as transmissões da televisão digital no Brasil. As emissoras paulistas começarão a operar simultaneamente em duas freqüências: analógica e digital.

A expectativa é que o sinal digital esteja disponível, até o fim de 2009, em todas as capitais e, em 2013, em todos os municípios brasileiros. O fim do sistema atual, analógico, está previsto para dezembro de 2016. Até lá, o desafio é conseguir dar acesso digital aos usuários dos 55 milhões de residências do país com televisores. Ao todo, são mais de 100 milhões de aparelhos.

“O início das transmissões digitais é resultado de um intenso processo de inovação que está se concretizando no Brasil. Toda a expectativa e debate em torno da novidade indicam que as pesquisas realizadas na universidade conseguiram gerar transformação, ou seja, fizeram com que o desenvolvimento tecnológico em rede dos laboratórios brasileiros chegasse ao mercado”, disse Marcelo Knörich Zuffo, professor do Departamento de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), à Agência FAPESP.

A partir de domingo, segundo Zuffo, um considerável ganho em imagem e som poderá ser visto por quem tiver o decodificador de sinais digitais, também chamado de set-top box – que já pode ser encomendado em lojas de eletrônicos – e uma antena UHF instalados no televisor analógico, ou, então, pelos donos de televisores com sistema digital integrado.

A qualidade da imagem digital que chega agora será até duas vezes e meia melhor do que a televisão atual, seja ela aberta ou a cabo, passando do padrão de até 480 linhas de resolução para até 1.080 linhas (aberta e digital). Os aplicativos de interatividade que fazem parte do “pacote tecnológico” da televisão digital no Brasil, no entanto, ainda não estão nos conversores.

Isso ocorre porque os middlewares, que são as interfaces de programação responsáveis pelos aplicativos de interatividade, também não foram instalados nos conversores que serão vendidos nos próximos dias.

“Os middlewares não foram embarcados no set-top box, mas isso pode ocorrer a qualquer momento, uma vez que essa é a camada mais externa dos conversores, que podem ser vendidos sem essas interfaces”, explica Zuffo.

O acesso interativo aos conteúdos se dará por meio de aplicativos como grade de programação, sinopses e informações extras sobre filmes e novelas. O usuário também poderá, com alguns cliques no controle remoto, personalizar a forma como os programas serão exibidos. As vantagens interativas deverão trazer ainda serviços semelhantes aos existentes na internet, do tipo on-line banking e correio eletrônico.


Primeiros e caros

Um dos grandes impasses para a implementação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) se refere aos valores elevados dos conversores, que têm preços que variam de R$ 400 a R$ 1 mil, enquanto o Ministério das Comunicações estimava que esse preço não passaria dos R$ 200.

Em entrevista coletiva realizada na quarta-feira (28/11), em Brasília, o ministro Hélio Costa sinalizou que a inclusão das tecnologias brasileiras nos dispositivos de TV digital seria um dos responsáveis pelo preço elevado dos conversores.

Segundo Costa, um dos responsáveis por esse aumento seria o Ginga, middleware desenvolvido em parceria por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e que deverá ser embutido em conversores comercializados no país.

Os pesquisadores discordam. “Ainda não existe nenhum modelo do Ginga embarcado nos conversores que estão no mercado, então acredito que ele não seja a causa do custo elevado desses aparelhos. A sua única influência nos set-top box até agora é que alguns modelos do aparelho foram dimensionados para serem atualizados quando as primeiras versões do Ginga ficarem prontas”, afirmou Guido Lemos, professor do Departamento de Informática da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e um dos responsáveis pela criação do Ginga, à Agência FAPESP.

“O que está encarecendo os conversores vendidos nos próximos dias em São Paulo é a decodificação H.264, padrão que permite que o sinal digital tenha 1.080 linhas de resolução. Trata-se de um chip decodificador de vídeo que não existia antes do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. Esse circuito foi desenvolvido por empresas estrangeiras para atender exclusivamente a demanda brasileira”, explicou

Segundo ele, a especificação tecnológica do Ginga está pronta e foi aprovada em consulta pública feita pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas a produção comercial do software ainda está em fase de desenvolvimento por empresas nacionais e, também, por pelo menos duas estrangeiras.

Para que o custo de produção dos conversores seja reduzido, o governo federal não descarta a possibilidade de oferecer subsídios aos fabricantes. “Acredito que subsídio não seja o melhor caminho. Precisamos criar uma política industrial de incentivo à produção dos produtos da TV digital, a exemplo do que já existe para o setor de computadores”, destacou Zuffo, que integra o Fórum Brasileiro de TV Digital, cujo objetivo é formular, junto ao governo federal, consensos técnicos para o SBTVD.

“Assim como o iPod, toda novidade tecnológica é mais cara. O problema do encarecimento dos conversores não são as tecnologias brasileiras, mas o simples fato de ainda não termos atingido uma situação de competitividade plena no mercado nacional. A indústria estabelecida no Brasil não está familiarizada com perfis de inovação que já são comuns em outros países. Os conversores deverão baixar pelo menos pela metade e até um terço do preço nos próximos anos”, disse Zuffo.

Em outra entrevista à Agência FAPESP, o professor da Poli chamou a atenção para a ausência de um marco regulatório que garantisse a inserção, nos produtos da TV digital, das inovações tecnológicas desenvolvidas nos centros de pesquisa brasileiros.

“Apesar desse marco regulatório já ter sido criado e muitas inovações da academia estarem sendo implementadas, agora precisamos discutir como as tecnologias previstas no decreto presidencial, como a multiformato e multiprogramação, serão exploradas na prática como recursos efetivos de TV digital”, disse Zuffo.

http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8103

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