sábado, 3 de novembro de 2007

Organização Sistêmica da Vegetação Nativa Paulista (Fanerógamas)

Flora paulista revelada
01/11/2007
Quinto volume da coleção Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo será lançado nesta quinta-feira (1º/11). Resultado de projeto temático da FAPESP, obra descreve 535 espécies de 117 gêneros e 12 famílias


Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O quinto volume da coleção Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo será lançado às 16h30 desta quinta-feira (1º/11), durante o 58º Congresso Nacional de Botânica, realizado na capital paulista. A edição é do Instituto de Botânica de São Paulo.

A série é resultado do projeto temático Flora Fanerogâmica, iniciado em 1993 com apoio da FAPESP. O projeto envolve mais de 200 pesquisadores tem feito um abrangente mapeamento da vegetação nativa paulista, descrevendo até o momento mais de 2 mil espécies fanerógamas – que produzem flores.

O projeto, que também deu origem ao programa Biota-FAPESP, é coordenado pelos pesquisadores Maria das Graças Lapa Wanderley, do Instituto de Botânica de São Paulo, e George Shepherd, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

De acordo com Maria das Graças, o quinto volume, mais extenso do que os anteriores, engloba ilustrações e informações sobre bromélias, rubiáceas, cactáceas e outras famílias de plantas presentes no estado de São Paulo – algumas nunca estudadas. “O volume atual descreve 535 espécies de 117 gêneros e 12 famílias”, disse à Agência FAPESP.

Até o quarto volume, publicado em 2005, haviam sido catalogadas mais de 1,7 mil espécies de 475 gêneros e de 139 famílias. “O total de espécies mapeadas nos cinco volumes corresponde a 32% das 7,5 mil espécies que estimamos existir no estado”, explicou.

De acordo com os cálculos feitos pelos botânicos, São Paulo reúne uma flora equivalente a dois terços da existente em toda a Europa. A previsão da equipe do projeto é publicar os dez volumes restantes da série até 2017.

“Temos material, em diferentes fases de elaboração, para mais dois ou três volumes. Há uma série de famílias que foram catalogadas e revisadas, como as mirtáceas, da qual fazem parte a pitanga e o jambo. Outras foram compiladas, mas ainda precisam de revisão, como a das melastomatáceas, da qual faz parte a quaresmeira, por exemplo”, disse a coordenadora.

Segundo ela, o processo de revisão e de padronização das espécies dentro do formato do projeto Flora Fanerogâmica segue um modelo extremamente rigoroso.

“É importante manter um alto padrão de qualidade não apenas científico mas também de apresentação. Todas as espécies devem ser descritas a partir de material científico minuciosamente examinado. As ilustrações precisam representar todos os gêneros”, destacou.

Maria das Graças ressalta que o objetivo do livro – e do projeto de modo geral – não se limita a catalogar as espécies. “O trabalho tem uma visão prática. O conhecimento sobre a biodiversidade do estado – tão pressionada, principalmente na Mata Atlântica – é necessário para a conservação dos ecossistemas.”


Formação de recursos humanos

Segundo Maria das Graças, além da inegável importância no aspecto científico, a coleção tem um papel pedagógico fundamental. “Apesar de trabalharmos com muitos pesquisadores, não temos uma equipe de apoio e, por isso, lidamos com um grande número de estudantes voluntários. Isso dá ao projeto um caráter de formação que consideramos uma grande vitória.”

Os desafios propostos pelo projeto são um importante ganho para os estudantes, segundo a professora do curso de pós-graduação do Instituto de Botânica. “Talvez até trabalhássemos com mais rapidez se integrássemos os estudantes, mas a formação de recursos humanos é fundamental. Vários doutores que participam do quinto volume como co-autores eram, no primeiro volume, estudantes com bolsa da FAPESP”, contou.

Além dos estudantes, o livro teve colaboração de especialistas de outros estados e países. “Tivemos que resolver problemas taxonômicos, mudando alguns grupos e criando novas espécies em famílias como a das bromeliáceas. Tudo isso teve ajuda de especialistas convidados e com a integração de todas as instituições paulistas”, explicou.

Segundo a cientista, o livro traz o registro de muitas plantas ornamentais e de importância econômica, medicinal e terapêutica. Entre as bromeliáceas, por exemplo, houve ocorrência da Bromelia antiachantha, cujas bagas são utilizadas para preparação de xarope para curar resfriados e bronquites. Entre as flacourtiáceas, a Casearia gossypiosperma apresenta casca e folhas utilizadas no tratamento de coceiras e contusões.

A importância econômica apareceu entre as plantas utlizadas como alimento. Entre as bromeliáceas, o destaque foi o Ananas comosus (abacaxi) e a Bromelia antiachantha, utilizada no preparo de compotas.

Foram registradas algumas espécies cuja presença era ignorada em território paulista, como a bromélia imperial, até agora conhecida apenas no Rio de Janeiro. “Nas famílias das rubiáceas e bromeliáceas, registramos diversas espécies que eram até agora referidas apenas em outros estados”, disse Maria das Graças.

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